domingo, 21 de dezembro de 2014

Serva de Deus Louise de Ballon

Louise de Ballon (1591-1668), “a mística da simplicidade”




A fecundidade de um carisma, como cisterciense, nunca deixa de se manifestar, durante o tempo. Sempre dá frutos abundantes a Vinha do Senhor, a Santa Igreja. O tempo das reformas, dos descalços e recoletos, não se restringiu as Ordem mendicantes, nem ao surgimento de novas modalidades de vida consagrada. O período da Reforma Católica, seguido ao Concílio de Trento, foi uma invasão de santos e místicos. Um dos autores espirituais mais importantes da Igreja é, sem dúvida, São Francisco de Sales, bispo de Genebra, fundadora da Ordem da Visitação de Santa Maria, e Doutor da Igreja. Sua parenta, sua amiga, sua filha espiritual, Louise Blanche  de Ballon, com seu auxílio iniciará uma reforma cisterciense, que terá grandes proporções – chegará a ter trinta mosteiros até o tempo da Revolução – conta ainda hoje com dois Mosteiros, na Suíça. Aqui, queremos fazer apresentar esta reformadora cisterciense, fundadora das Bernardines da Suíça, e sua mística da simplicidade. Ainda que seja sensível a influência salesiana em seus escritos, sem nenhuma dúvida sua formação espiritual é bernardiana. São Bernardo é sentido em todos seus escritos, somente em estilo diferente. Filha de São Bernardo, Esposa do Crucificado. “A vida crucificada é verdadeira vida das Filhas de São Bernardo[1]”(214) dirá as suas irmãs.

Mística da Simplicidade

O distintivo de sua espiritualidade, e do caminho que apresente a suas filhas, dentro da mística cisterciense, é propriamente o caminho da simplicidade. A simplicidade é a sua reforma. No seu Tratado da Simplicidade Religiosa, dedicado “a São Bento e São Bernardo, meus gloriosos pais” (52), ela exclama: “Meu Deus, que a simplicidade arranque esta multiplicidade em nosso espírito! Ela é como um abismo onde se perde e se aniquila tudo o que não é Deus em nós. Deve somente se abandonar e deixar que Deus faça. Pois ele mudará este abismo em um abismo de graças” (55)

Humildade

A humildade é fundamento da espiritualidade beneditina, é o verdadeiro caminho beneditino, a Escada de São Bento à Caridade, como ele mostra em sua Regra. E com certeza, está no centro da espiritualidade de São Bernardo, como mostra o seu Tratado sobre os graus da humildade e soberba.
A Madre Ballon recebeu inúmeras graças e luzes sobre a virtude da humildade, que não se pode desassociar da simplicidade. Ela mesmo conta sobre uma destas graças: “Um dia de São Francisco de Assis, tive um conhecimento particular da eminente humildade que deve ser praticada nesta terra. Eu vi ter que ser fundada só sobre o nosso nada todo o edifício espiritual” (176). Assim, ela recomendará a suas filhas: “Não é, minha Filha, um segredo pequeno para a perfeição, não ignorar, e nunca esquecer o pouco que nós somos. Que nós não somos senão um verdadeiro nada, no máximo, um terreno que não produz no seu interior senão espinhos. Entretanto, crede firmemente, que se permaneceis bem fundo neste verdadeiro conhecimento, Deus se servirá destes mesmos espinhos para fazer nascer rosas. Um ato de simplicidade que fazeis para impedir um mau pensamento, será uma rosa aos olhos da Divina Majestade. Um ato de despojamento de vossa vontade ou de vosso juízo, é o que faz florescer uma rosa entre os espinhos. De maneira, que ouso dizer que não haveria tantas rosas em nosso jardim, eu entendo, em nós mesmas, se primeiramente não houvesse tantos espinhos.” (p.8-9)

Solidão

Não é a solidão que levou tantas almas ao deserto? O mesmo desejo de solidão fecunda, para o Diálogo com Deus, continua atraindo as almas para os claustros. A Vida monástica é sempre atual. Porque Deus continua chamando, Cristo Senhor Nosso, “o meu Solitário”, como chamava Madre Ballon, está lá. A vida monástica é experiência de solidão cheia do Amor de Cristo. Assim Ela se dirige ao Esposo Divino em Retiro: “Meu Senhor Jesus Cristo,  meu amável Solitário, não somente durante meu retiro, mas até minha morte, em consideração por meus pecados, sejas tu meu Solitário. Eu não sei onde estou, da extrema confusão que tenho. Moisés, só por uma pequena dúvida não entrou na Terra prometida. Os Santos, antes que cometer o menor pecado venial, prefeririam cair no inferno. Ah! Onde estou, eu, eu que tão facilmente e tão freqüentemente caio nestas faltas? Meu principal remédio é não perder de vista meu divino Solitário. Ele me perdoará e me corrigirá. Me entreterei com sua humildade e sua paixão. Ele muitas vezes me faz conhecer  que esse abaixamento é o que lhe é mais agradável. Ele se entregou a nós, até o fim do mundo, aniquilado no Santo Sacramento do Altar. Pois aquele que tanto nos amou e praticou este abaixamento em nosso favor, para que nós amamos e o pratiquemos nós também, por amor dele; por nós, que no fundo, não somos senão um puro nada diante dele?”(173)

José Eduardo Câmara de Barros Carneiro





[1] Diante de cada citação, aparece a página citada, de seus escritos editados pelo Rev. Padre Jean Grossi, do Oratório Francês. Em: Oeuvres de piété de la Vénerable Mére Louise Blanche de Ballon. Paris. 1700.

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