Louise de Ballon
(1591-1668), “a mística da simplicidade”
A fecundidade de um carisma, como cisterciense, nunca
deixa de se manifestar, durante o tempo. Sempre dá frutos abundantes a Vinha do
Senhor, a Santa Igreja. O tempo das
reformas, dos descalços e recoletos, não se restringiu as Ordem mendicantes,
nem ao surgimento de novas modalidades de vida consagrada. O período da Reforma
Católica, seguido ao Concílio de Trento, foi uma invasão de santos e místicos. Um dos
autores espirituais mais importantes da Igreja é, sem dúvida, São Francisco de
Sales, bispo de Genebra, fundadora da Ordem da Visitação de Santa Maria, e
Doutor da Igreja. Sua parenta,
sua amiga, sua filha espiritual, Louise Blanche
de Ballon, com seu auxílio iniciará uma reforma cisterciense, que terá
grandes proporções – chegará a ter trinta mosteiros até o tempo da Revolução –
conta ainda hoje com dois Mosteiros, na Suíça. Aqui,
queremos fazer apresentar esta reformadora cisterciense, fundadora das Bernardines da Suíça, e sua mística da
simplicidade. Ainda que
seja sensível a influência salesiana em seus escritos, sem nenhuma dúvida sua
formação espiritual é bernardiana.
São Bernardo é sentido em todos seus escritos, somente em estilo diferente.
Filha de São Bernardo, Esposa do Crucificado. “A vida crucificada é verdadeira
vida das Filhas de São Bernardo[1]”(214)
dirá as suas irmãs.
Mística da Simplicidade
O distintivo
de sua espiritualidade, e do caminho que apresente a suas filhas, dentro da mística
cisterciense, é propriamente o caminho da simplicidade. A simplicidade é a sua
reforma. No seu Tratado
da Simplicidade Religiosa, dedicado “a São Bento e São Bernardo, meus gloriosos
pais” (52), ela exclama: “Meu Deus, que a simplicidade arranque esta
multiplicidade em nosso espírito! Ela é como um abismo onde se perde e se
aniquila tudo o que não é Deus em nós. Deve somente se abandonar e deixar que
Deus faça. Pois ele mudará este abismo em um abismo de graças” (55)
Humildade
A humildade
é fundamento da espiritualidade beneditina, é o verdadeiro caminho beneditino,
a Escada de São Bento à Caridade, como ele mostra em sua Regra. E com certeza,
está no centro da espiritualidade de São Bernardo, como mostra o seu Tratado sobre os graus da humildade e soberba.
A Madre
Ballon recebeu inúmeras graças e luzes sobre a virtude da humildade, que não se
pode desassociar da simplicidade. Ela mesmo conta sobre uma destas graças: “Um
dia de São Francisco de Assis, tive um conhecimento particular da eminente
humildade que deve ser praticada nesta terra. Eu vi ter que ser fundada só
sobre o nosso nada todo o edifício espiritual” (176). Assim, ela
recomendará a suas filhas: “Não é, minha Filha, um segredo pequeno para a
perfeição, não ignorar, e nunca esquecer o pouco que nós somos. Que nós não
somos senão um verdadeiro nada, no máximo, um terreno que não produz no seu
interior senão espinhos. Entretanto, crede firmemente, que se permaneceis bem
fundo neste verdadeiro conhecimento, Deus se servirá destes mesmos espinhos
para fazer nascer rosas. Um ato de
simplicidade que fazeis para impedir um mau pensamento, será uma rosa aos olhos
da Divina Majestade. Um ato de despojamento de vossa vontade ou de vosso juízo,
é o que faz florescer uma rosa entre os espinhos. De maneira, que ouso dizer
que não haveria tantas rosas em nosso jardim, eu entendo, em nós mesmas, se
primeiramente não houvesse tantos espinhos.” (p.8-9)
Solidão
Não é a solidão
que levou tantas almas ao deserto? O mesmo desejo de solidão fecunda, para o
Diálogo com Deus, continua atraindo as almas para os claustros. A Vida
monástica é sempre atual. Porque Deus continua chamando, Cristo Senhor Nosso,
“o meu Solitário”, como chamava Madre Ballon, está lá. A vida monástica é
experiência de solidão cheia do Amor de Cristo. Assim Ela se
dirige ao Esposo Divino em Retiro: “Meu Senhor Jesus Cristo, meu amável Solitário, não somente durante meu
retiro, mas até minha morte, em consideração por meus pecados, sejas tu meu
Solitário. Eu não sei onde estou, da extrema confusão que tenho. Moisés, só por
uma pequena dúvida não entrou na Terra prometida. Os Santos, antes que cometer
o menor pecado venial, prefeririam cair no inferno. Ah! Onde estou, eu, eu que tão
facilmente e tão freqüentemente caio nestas faltas? Meu principal remédio é não
perder de vista meu divino Solitário. Ele me perdoará e me corrigirá. Me
entreterei com sua humildade e sua paixão. Ele muitas vezes me faz
conhecer que esse abaixamento é o que
lhe é mais agradável. Ele se entregou a nós, até o fim do mundo, aniquilado no
Santo Sacramento do Altar. Pois aquele que tanto nos amou e praticou este
abaixamento em nosso favor, para que nós amamos e o pratiquemos nós também, por
amor dele; por nós, que no fundo, não somos senão um puro nada diante
dele?”(173)
José Eduardo
Câmara de Barros Carneiro
[1]
Diante de cada citação, aparece a página citada, de seus escritos editados pelo
Rev. Padre Jean Grossi, do Oratório Francês. Em: Oeuvres de piété de la Vénerable Mére Louise Blanche de Ballon. Paris.
1700.
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